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Bem-vindos! Este blog surgiu do meu gosto pela palavra, em especial pela palavra escrita. Desde novo, comecei a tomar gosto pela coisa e a escrever um textinho aqui, um poeminha ali, uma redação acolá. Com o passar do tempo, dei-me conta de que esses escritos se encontram dispersos em pedaços de papel, partes de cardenos etc - pois, com frequencia, a gente guarda memórias da nossa infância e adolescência, mesmo não sendo nada de grande valor literário. Ao crescer, não sei se a qualidade dos textos melhorou em nada, mas a vontade de escrever não me abandonou, ainda que se manifeste esporadicamente, e comecei, então, a questionar meu método de produção e armazenagem - papéis soltos por todos os cantos já não me pareciam a melhor maneira. Surgia, assim, a ideia de fazer um blog. Da ideia até sua execução, passaram-se anos, mas finalmente aconteceu. Para entender um pouco mais sobre a escolha do nome, ou sobre o blog em si, leia o post inaugural, clicando aqui. Por fim, muito embora não haja aqui organização quanto a temas, tipos ou formas textuais, preferi separar os textos em versos numa outra página a que chamei de "Líricos". Caso tenha interesse em visualizar esses textos, basta clicar aqui ou no link que se encontra à direita se sua tela. Boa leitura!

sábado, 10 de setembro de 2011

Palavras que aprendi a amar

Conheço pouco as palavras... contudo, também conheço palavras que poucos conhecem! E, muito embora tenham sido por mim ignoradas por anos, uma vez que as conheci, não sei como pude um dia prescindir delas. De estranhas, desconhecidas, passaram a ser palavras amigas, companheiras, sobretudo naqueles momentos em que a gente mais precisa delas, momentos de refletividade, de ponderação. Claro, assim como é costumeiro com as pessoas, muitas destas palavras não as conheci diretamente, mas me foram apresentadas por seus pares, por suas irmãs e até mesmo por parentes estrangeiras. Conhecer palavras é uma viagem (literalmente, tem hora), é um deleite, sejam elas da nacionalidade ou origem que forem. De fato, ao aprender outros idiomas, acabei por conhecer mais o meu próprio. É uma pena que eu ainda seja por demais ignorante sobre minha própria e sobre as demais línguas com as quais travei contato. Ah, mas se com o pouco que conheço delas já me alegram tanto! Sem contar as coisas - úteis, ou não, pouco importa, pois não ocupa espaço nem custa nada - que me levam a saber.

Do inglês, por exemplo, aprendi que poderia, se quisesse, delir o "delete" da língua de vez! Está bem que ambas vêm do mesmo radical latino, significam, em essência, a mesma coisa. Mas uma chegou muito antes, lá pelo século XV, quando os portugueses ainda desbravavam as terras deste colosso sulamericano. A outra desembarcou por aqui bem depois, já na segunda metade do século XX, pela popularização da informática. Mas, como aqui nesta terra sempre recebemos bem os estrangeiros, a que chegou depois, com o sotaque gringo, se aclimatou e hoje toma açaí num quiosque qualquer lá da Barra. A mais velhinha caducou, hoje está num asilo e ninguém mais se lembra dela (precisamos aprender a cuidar melhor de nossos idosos!).

Sempre que se deseja é algo com paixão, mas confesso que desejei muito mais intensamente depois que o fiz anelosamente! E só pude fazê-lo graças ao que me ensinaram o italiano e o espanhol. Esta palavra, aliás, nem mesmo o dicionário ainda a traz, e fui até ridicularizado por utilizá-la certa vez! Mas o Google já a encontra algumas dezenas de vezes em seu repertório. De todo modo, para aqueles que não se contentam com os resultados daquele que tem acesso à, praticamente, toda a fonte de saber humano disponível no mundo, busquem por "anelo" e "anelar" nos dicionários. Eles terão a cortesia de lhes apresentar suas definições. E para fazer a adverbialização, quer seja do verbo, quer seja do substantivo, ninguém precisa de permissão de dicionário nenhum! Não sou eu que vou ficar esperando por uma. Afinal de contas, certas mulheres podem periguetar por aí à vontade que logo são agraciadas com o verbete "periguete"! Então quero ver quem é o puritano que vai me atirar a primeira pedra!

Também graças ao espanhol, o que "costumava a ser" na minha vida ficou tão mais simples quando começou a soer! Vá lá que absolutamente ninguém use esta palavra em língua portuguesa, mas, convenhamos - tão mais sintética! E dizer que "sói" nem dói! Agora, dizer que "acontece com frequência", ou "é hábito ou costume" pode até nem doer, mas que leva mais tempo e gasta tantas letras, ah, isso ninguém tem como negar!

Verdade que nem todas palavras aprendidas facilitam... O chiste não é tão engraçado quanto a piada e o chisme nunca vai fazer tanto sucesso quanto a fofoca! Mas conhecê-las a ambas e saber que elas fazem parte da língua de Camões tanto quanto da de Cervantes também não faz mal a ninguém! Vai que alguém resolve te contar um chisme... Seja como for, não vai querer ficar sem saber do babado, vai?

Grande ou pequena, nacional ou estrangeira, de traços latinos ou germânicos, o certo é que aprender uma boa palavras é como conhecer uma boa mulher - difícil entendê-la, mas, uma vez que a conheça melhor, impossível não amá-la!

sábado, 4 de junho de 2011

Carta

Montevidéu, 28 de abril de 2011.

Cara Amiga,

Como vais? Tudo bem? Cheguei há poucas horas à capital uruguaia e resolvi aproveitar a paisagem para tirar um descanso e escrever-te esta. Saí bem cedo de Buenos Aires e peguei uma barca para cruzar o Rio da Prata e agora estou aqui, do outro lado da margem, sentado num muro de pedras construído ao longo dum pequeno trecho da orla do rio. Suponho que aqui já esteja numa parte da foz já muito próxima ao oceano, porque a cor da água e tudo mais em volta lembra o mar - há verdadeiras praias, com gaivotas, conchinhas de mexilhões, a brisa que sopra constante e tudo mais.

À esquerda de onde estou, tem um casal de meia idade, de feições asiáticas, abraçadinhos... Imagino que já sejam casadas há muitos anos, mas ainda namoram! Mais adiante, à minha esquerda, sentados na mesma mureta, um casal jovem também namora. Eles conversam e trocam carícias - ela mexe no cabelo dele, depois ele no dela, se abraçam, se beijam... Olhá-los dá a impressão de que, para eles, só existem os dois no planeta. Parecem, simplesmente, ser as pessoas mais felizes do mundo! No fim das contas, fico com a sensação de que a felicidade não custa caro, não é verdade? A praia e a mureta são de graça. Os carinhos, os beijos, os sorrisos, as palavras sussurradas ao pé do ouvido... nada disso tão pouco é cobrado. É simples, é grátis, é mágico! E parecem felizes de fato. É por isso que eu amo coisas simples! Creio que a simplicidade tem o poder de abrir pequenas portinhas escondidas pelas quais a felicidade pode entrar. Não concordas? Veja só eu aqui, - belas palmeiras de um lado, a brisa e o barulho da água nas pedras do outro, e nada pra fazer, nenhuma obrigação... simples e barato - feliz! Acho que não trocava este momento por quase nada no mundo.

Montevidéu é uma cidade bem agradável, muito embora não goze da mesma pujança que a capital portenha. Todos muito simpáticos e é impressionante a quantidade de coisas que remetem ao Brasil nas duas cidades - Av. Brasil, Praça Tiradentes, Banco Itaú, posto da Petrobras, busto de Santos Dumont etc. Uma coisa curiosa daqui é que, por todas as partes, vê-se os uruguaios com sua cuia na mão e uma garrafa térmica debaixo do braço, prontos pra tomar seu mate (o nosso chimarrão) em todos os lugares que vão. Marcas culturais à parte, certas coisas não mudam, por exemplo, também aqui os cães sabem quando estão indo ao veterinário! Eis a cena: um labrador preto, lindo!, curvado, ofegante, tentando a todo custo ir no sentido contrário ao que ia sua dona, que lhe arrastava pelo chão liso do consultório. E o pobrezinho fazia a mesma cara que o meu cachorro faz quando sabe que vai ao veterinário. Deve ser aglum instinto canino universal... Uma comédia!

Buenos Aires é linda! É uma grande metrópole, mas não como São Paulo, ou Nova Iorque. Tudo bem que a impressão que se tem é de que não há casas na cidade - é uma massiva construção de grandes edifícios, mas que lembra mais algo como Milão, ou Paris, não sei. Deve ser isso, aliás, que doa à cidade aquele tal "ar de Europa" de que tanto ouvi falar, porém sempre desconfiava se seria mesmo verdade. É. Nota-se isso não só na arquitetura dos prédios, mas na disposição da cidade, na maneira como as pessoas se vestem, e ainda tem essa pintura retrô com a qual se pintam os ônibus urbanos e os letreiros e cartazes, dando à cidade um certo tom nostálgico. Buenos Aires é pujante, mas não está para grandes arranha-céus futuristas, é bem mais charmosa que isso. Seu clima é de Belle Époque! É bem essa a expressão.

Bom, querida amiga, espero que tudo esteja bem contigo e com os teus. Que possas gozar de saúde e destreza, que realizes teus sonhos, venças na vida e sejas feliz. Obrigado por tua última missiva e não te demores em escrever-me novamente. Aguardarei ansiosamente por notícias tuas. Não te esqueças deste que te escreve.

Com carinho,
Teu amigo.

terça-feira, 29 de março de 2011

Daminha de papel

Coisinha tão pequena
Daminha de papel
Eterna princesinha
Docinho de mel
Te embalo em meus bracinhos
Bracinhos de Morfeu

Dorme, minha daminha
Docinho de mel
Sonhe com os anjinhos
Que estão além do véu.

Eterna princesinha
Coraçãozinho meu
Anjinho de candura
Saudades sinto eu
Agora tens teu berço
Com o Papai do Céu

Dorme, estrelinha
Brilha nos sonhos meus
Descansa, meu anjinho
Nos vemos lá no céu.

(uma singela homenagem àqueles que nem bem nascem e já têm que partir... uma humilde expressão de condolência para com aqueles que, cedo demais, são forçados a dizer adeus aos seus pequenos)

terça-feira, 15 de março de 2011

Só Não Sei Fazer Música

Sempre quis compor música, mas nunca consegui (pelo menos, não uma séria). Acreditava que até seria capaz de fazer a letra, mas na hora de fazer a melodia... não sai! O texto que se segue foi só uma forma de lidar com/brincar com/externar essa frustração. Nem sei como ficou, foi feito meio de improviso. Virgílio (o autor latino) me teria feito esperar nove anos antes de publicar. Tenho mais pressa que isso, não pude esperar, de todo modo, espero que sirva ao menos pra passar o tempo.

Posso fazer bastante coisas com um texto. Pode até não ficar bom, não valer nem a tinta que gaste, mas posso fazer. Posso começar piano, suave, com palavras sibilantes, sussurradas, deslizantes, aspiradas, que suspiram suavemente o doce som dum silvo corrente que sopra sobriamente num silencioso sábado de manhã. Posso entrar num crescendo, numa torrente de verbos e outras formas lexicais, substantivas, pronominais, adjetivas, adverbiais, determinantes e outras variantes que se põem a imprimir um ritmo alucinante de verborréia constante que não se permite nem mesmo o instante de um breve suspiro refrescante que o sumário vagar de um humilde estanque poderia propiciar ao infeliz ser que busca desesperadamente o momento preciso de uma pausa gráfica para um fugaz alento salvador inspirar! De improviso, paro, numa fermata retardo o que devia continuar, já sobra tempo pra respirar. Posso fazer uma frase valsada em batida ternária com a sílaba tônica impondo essa mossa a cada compasso que há. Quero, posso, mudo o troço pra cadência de dois pulsos - aqui um, um acolá. Só não me mande fazer nada em 19/16 porque aí já é sacanagem! E essa última frase, que disparate, ficou dissonante! Com palavras, acredite, posso ritmo, rima e métrica, posso fazer estética feia ou bela, só não posso musicar! Posso fazer bastante coisas com um texto. Só não sei fazer música...

domingo, 13 de março de 2011

Código de Barras

Devíamos todos nascer já com um código de barras, né? Sim, porque facilitaria bastante a vida de toda essa gente babaca que insiste em rotular os outros. Só não sei se um único código seria o suficiente, afinal é tanto rótulo que tem por aí que um só talvez não bastasse.

Não sei o que leva um sujeito que não te conhece crer que pode te olhar e em dois minutos (ou dois anos, que seja!) pensar que, de fato, sabe algo a teu respeito. "Não se conhece bem uma pessoa até que tenham comido juntas um quilo de sal", mas o sujeito nem se sentou à sua mesa e já se sente competente pra falar as asneiras que quiser. A pessoa não mora contigo, não paga as tuas contas, não leu metade dos teus livros, em suma, nada sabe a teu respeito, mas pensa que sabe, quando na verdade trata-se de uma pessoa preterível, dispensável, desimportante...

Dá vontade de aplicar a dose de sal ao estilo Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião. Pra quem não conhece, reza a lenda que Lampião fez comer um quilo de sal, de uma vezada só, a um sujeito de seu bando que reclamou da comida preparada para eles por uma senhora idosa, dizendo que estava insossa. Ao fim da refeição, Lampião perguntou - "não era sal que você queria? Pois sal você vai ter!" - e pediu à velhinha que trouxesse logo um quilo. Quando terminou de comer o sal, o sujeito passou mal e morreu. Não desejo a morte de ninguém, mas vale a lição.

Agora, nem sei porque estou me importando com isso, pois, como falei, geralmente são pessoas desimportantes que fazem desse tipo de coisa. "Então por que da revolta?", alguém pode perguntar. Não sei... talvez porque seja dever de todo ser humano se indignar com seus semelhantes de tempos em tempos, sob pena de ser cúmplice da prevalência da escória sobre os bons costumes e o bom senso. Afinal, como disse certa vez Martin Luther King, "o que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas". E fim de papo.