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Bem-vindos! Este blog surgiu do meu gosto pela palavra, em especial pela palavra escrita. Desde novo, comecei a tomar gosto pela coisa e a escrever um textinho aqui, um poeminha ali, uma redação acolá. Com o passar do tempo, dei-me conta de que esses escritos se encontram dispersos em pedaços de papel, partes de cardenos etc - pois, com frequencia, a gente guarda memórias da nossa infância e adolescência, mesmo não sendo nada de grande valor literário. Ao crescer, não sei se a qualidade dos textos melhorou em nada, mas a vontade de escrever não me abandonou, ainda que se manifeste esporadicamente, e comecei, então, a questionar meu método de produção e armazenagem - papéis soltos por todos os cantos já não me pareciam a melhor maneira. Surgia, assim, a ideia de fazer um blog. Da ideia até sua execução, passaram-se anos, mas finalmente aconteceu. Para entender um pouco mais sobre a escolha do nome, ou sobre o blog em si, leia o post inaugural, clicando aqui. Por fim, muito embora não haja aqui organização quanto a temas, tipos ou formas textuais, preferi separar os textos em versos numa outra página a que chamei de "Líricos". Caso tenha interesse em visualizar esses textos, basta clicar aqui ou no link que se encontra à direita se sua tela. Boa leitura!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Construtor de Pontes

Entre dois mundos, duas pessoas, dois corações, sempre há uma ponte. Há aqueles que a trilham lado a lado, alcançando juntos seu destino. Há aqueles que se encontram no caminho, quando seguiam em sentidos opostos; uns apenas se esbarram por um breve momento mas logo seguem em frente, outros param, demoram-se um pouco e, muitas vezes, acabam por mudar de direção, passando a caminhar juntos dali em diante. Há as pontes que unem e as que separam, dependendo do uso que se lhes dá.
Todos os dias construo pontes. Umas se erguem altas, espaçosas e imponentes, nelas o trânsito é fácil e livre a qualquer hora do dia. Outras seguem parcialmente acabadas, seu percurso é instável, seu destino incerto. Por fim, há aquelas que nem chegam a ser erigidas, encontrando fraqueza em sua base ou barreiras à sua frente que, sem o empreendimento de ambas as extremidades, tornam-se impossíveis de se superar.
Este, aliás, é o segredo das pontes – não se constroem sozinhas, e só se encontra pleno gozo naquelas que são largas vias de mão dupla.
 
Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2012.

terça-feira, 12 de junho de 2012

De Gênesis A Apocalipse

No oitavo dia, Adão passeava distraído pelo jardim quando avistou Eva!... Ah, Eva!... sentada ali, na beira de um pequeno e tranquilo lago, brincava de passar os dedos sobre as águas, deixando o rastro de pequenas ondinhas que se propagavam até sumir. Adão a olhava admirado, prostrado diante de tanta beleza. Aqueles longos cabelos que lhe cobriam os ombros, aquela pele de aparência tão sedosa que brilhava aos raios de sol que se refletiam também sobre as águas, seu semblante tranquilo, quase angelical, sua delicadeza, sua docilidade... Todo o seu aspecto deixava Adão tão entregue que tinha a inequívoca certeza de que, para ele, ela seria a única no mundo! Assim, movido pelos mais nobres desejos, encheu-se de ânimo e foi falar-lhe:

- Eva, bendita, inspiração dos meus sonhos, fruto de minha carne, companheira dos meus dias, casa-te comigo, tenha os meus filhos e seja a mãe de toda a Terra!

Ao que ela respondeu:

- Oh, Adão, homem sábio e viril, meu guardião e protetor, distinto senhor, eu bem quisera, mas tu gostas de peras, eu prefiro as maçãs; tu gostas das nozes, eu prefiro avelãs... Somos tão diferentes! Não funcionaria...

- Mas, Eva!...

E foi essa a história do fim da espécie humana.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pulvis es et in pulverem reverteris

A cada manhã que acordo, me levanto disposto a encarar mais um dia, resoluto em sustentar a maior falácia em que o homem jamais pôde crer - o poder! E não se iluda o leitor em crer que trato aqui daquele poder altivo que possuem as pessoas como aquelas que ocupam os altos cargos públicos, ou que são os grandes figurões da sociedade, ou que estão em qualquer posição de autoridade. NÃO! Refiro-me à falácia que não é privilégio de qualquer ser humano - tanto pobres, quanto ricos; tanto sábios, quanto incultos sucumbem à inevitável ilusão de que realmente controlam alguma coisa. E suspeito que nem o façam por mal! Até porque, simplesmente aceitar a dura realidade, pode ser um golpe duro demais para a nossa espécie suportar.

Mas a verdade nua e crua é esta - o homem é um ser débil, insignificante! E, muito embora se alimente da ilusão de que controla e subjulga todas as coisas, - de fato, é admirável tudo o que o homem é capaz de fazer, construir, produzir, aprender e transformar ao seu redor; são inegáveis a força, a capacidade e a influência que o homem exerce - na verdade, ele é aquilo que ele mais teme: impotente! Obviamente, não me refiro àquela impotência de ordem sexual, muito embora seu exemplo se aplique aqui neste contexto tão perfeitamente quanto qualquer outro. Quer seja o leitor crente, ou não (isso pouco vai importar), as palavras do evangelista são tão válidas hoje, quanto a dois mil anos atrás, apesar de agora existirem as tintas para cabelo: "Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto." Talvez hoje o homem seja capaz de controlar a cor dos fios, mas certamente ainda tem pouco controle sobre a permanência, ou não, desses fios em seu couro cabeludo. E, chegado o dia em que ele domine completamente a técnica de segurar os fios rebeldes, ainda assim, nunca haverá a garantia de que a própria cabeça que eles adornam seguirá sustida sobre o pescoço de seu dono. Vê, meu amigo, você pode até decidir a cor do seu cabelo, mas certamente não é você quem decide quando dará seu primeiro alento nem seu último suspiro. Aos que queiram, talvez, arrumar-me um contra-exemplo, digo que, possivelmente, nem aqueles ditos suicidas tenham, stritu sensu, esse poder - quantos já tentaram por cabo à própria vida e falharam? E, de todo modo, ninguém decide sobre seu primeiro choro.

Voltemos a cada manhã em que me alço, entusiasmado, ou não, porém sempre disposto a sustentar o engodo. E por que é, ou como é que me engano tanto? Darei um exemplo, trabalho diária e dedicadamente, e, no final do mês, pagam-me meu salário. Então honro integral e pontualmente todos os meus compromissos financeiros, e depois me esforço para poupar uma parte do meu ordenado a fim de "ter uma reserva para uma emergência", ou então "garantir o meu futuro" - não é assim que procedemos vários de nós, caro leitor? Provável que você mesmo aja de forma igual e, se for este o caso, eu o congratulo e insto-lhe a continuar - você está sendo prudente, precavido, muito sábio. Como é reconfortante saber que, se alguma coisa acontecer você está coberto, não é verdade? Ou como o tranquiliza a certeza de que seu futuro estará garantido, não é mesmo? Mas e que garantias são essas que você tem? Seu dinheiro no banco? Pois o banco pode quebrar, seu investimento pode dar prejuízo, ou simplesmente seu dinheiro pode perder o valor de uma hora pra outra. Estou exagerando? Pergunte a alguém que tenha vivido a crise dos anos 30 para saber se o que eu digo é exagero.

Não se assuste, como já percebeu, eu e você fazemos mais ou menos as mesmas coisas e buscamos mais ou menos a mesma tranquilidade e paz de espírito. É bom deitar a cabeça no travesseiro à noite sabendo que está tudo bem, certo? Contudo, leitor, entenda que essa sua sensação de controle da situação ou, em outras palavras, de poder, não é mais que uma ilusão. Evidente que não estou fazendo aqui nenhuma apologia para que abandone todas suas praticas salutares já que "tudo é uma ilusão". Não! Observadas as condições normais de temperatura e pressão, vulgo CNTP, as medidas costumeiras que o senhor toma para precaver ou remediar seus males funcionam perfeitamente. Por favor, siga pondo-as em prática! O que eu quero só que o senhor entenda é que, muito embora essas ações funcionem muito bem sob CNTP, o senhor não controla nem a temperatura e nem a pressão!

Chega um dia (ou uma dezena deles) na vida de um homem - seja rico, ou podre; poderoso, ou modesto - e, se não chegou ainda, é quase certo de que chegará, em que ele simplesmente se vê impotente diante do que a vida lhe impõe. E a impotência, meus caros, é o pior dos sentimentos... Se verá impotente, ainda que culto e rico em práticas pedagógicas, diante de um filho que escolhe enveredar-se por caminhos tortuosos sem que ele nada possa fazer... Se verá impotente, ainda que abastado, quando a doença o acometer, roubando-lhe sua disposição ou suas faculdades... Se verá impotente diante de um amor que parte revel ao seu querer... Se verá impotente diante da morte, ainda que creia na vida após essa, pois enquanto ainda estiverem separados, nada poderá fazer...

Percebe, senhor, seu poder não é nada! E sua segurança não é mais forte do que o barbante que amarra um elefante! Quando caminha altivo, com a cerviz em riste (se acaso o faz), o senhor apenas sustenta um conto de fadas tão verdadeiro quanto aqueles que contam para as crianças dormirem. Ou se maltrata ou despreza seu semelhante (talvez não o julgue tão semelhante assim ao distinto senhor), saiba, contudo, que ao simples querer dos elementos, as nuvens podem enegrecer o seu céu, as vagas podem varrer o seu mar, o seu chão pode se abrir e tragá-lo num piscar de olhos. "Pulvis es et in pulverem reverteris" - do pó ao pó - é o que está infalivelmente decretado, tudo mais é vaidade.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

...MCZ-AMS-GIG-MCZ-GIG-AMS...

O que é possível fazer em 36 anos? E em duas ou três horas?

Estava eu no aeroporto internacional em Maceió, retornando de minhas férias nas Alagoas, quando vejo uma senhora, falando uma mistura de espanhol quebrado com italiano, tendo dificuldades em se informar se aquele voo ia, de fato, para o Rio de Janeiro, uma vez que a tela indicava São Paulo como destino da aeronave (sabem como é hoje em dia, né? - um pinga-pinga danado de aeroporto em aeroporto). Detalhe: a senhora perguntara, primeiramente, à moça da Gol se ela falava inglês e, obviamente, sendo a Gol a empresa de ponta que é, a resposta da moça foi "não" - a Gol, aliás, anda uma maravilha! Sempre inovando! Foi a primeira empresa no país a substituir os lanches pelos saquinhos de amendoim! E agora, outra vez na vanguarda, vende pão com presunto a preço de lanche completo do McDonald's! De graça agora só água! Mas tem que pedir, porque eles não vão te oferecer! E o melhor de tudo, além de pagar caro, tem que dar o dinheiro certo, porque eles não têm troco! Quanta modernidade, né? Enfim, divago...

Após assistir à cena, estando já na rampa de embarque, resolvi abordar os estrangeiros - àquela altura eu já percebera que estavam em três - para explicar-lhes que o voo, de fato, tinha Guarulhos por destino final, mas que faria escala no Galeão, e assim tranquilizá-los. Depois jogamos meia dúzia de conversa fora - perguntei-lhes se viajavam a turismo, disseram que não; se a negócios, também não, e não entendi nada quando falaram alguma coisa a respeito da mãe de não sei quem, o que me deixou  um pouco curioso, mas - foi cada um para seu assento e larguei o assunto pra lá.

Depois de o piloto jogar o avião sobre o solo (porque se aquilo é aterrissagem, então Maguila é massagista!), após algumas horas de voo, chego ao Rio de Janeiro lá pelas quatro e meia da matina. O ônibus para a Rodoviária só começaria a circular a partir das 6h e, levando em conta que o lanche que a Gol não me serviu não estava nada delicioso, eu estava mesmo era morrendo de fome! Fui, então, ao terceiro andar do Galeão procurar o que comer. Fiz o meu pedido e, quando estava lá pagando meu lanche, eis que a mesma senhora do embarque me avista e, com faíscas de luz saltando-lhes aos olhos, vem em minha direção dizendo - "você! você fala inglês! você pode nos ajudar!". Tempo disponível para ajudar era o que não me faltava naquele momento, então consenti, pedindo-lhe apenas que aguardasse eu terminar de comprar meu lanche. Assim, depois do assalto, digo, de comprar meu café da manhã, me dirigi para onde eles estavam sentados, agora acompanhados de mais duas mulheres, e foi aí que a história começou a se revelar...

Os três holandeses - a tia adotiva, a sobrinha adotada e o marido desta - tinham ido para as Alagoas com um único objetivo em mente: encontrar a mãe biológica da sobrinha. Esta, ainda bebê, fora entregue a freiras católicas para adoção e um casal holandês a levou para os Países Baixos e lá a criou. Após o falecimento de seus pais adotivos, ela, agora com 36 anos de idade, casada e com três filhos, resolvera ir em busca de sua mãe biológica, de suas origens. O grupo chegou ao Brasil somente com a certidão de nascimento dela e um contato de um tio também holandês, mas que, por ser padre, estava há muitos anos em paragens tupiniquins e, por isso, falava português. Os quatro se encontraram na cidadezinha de nascimento dela (em AL) e começaram suas buscas. Depois de muita busca e muita sorte, processo que não detalharei aqui, finalmente conseguiram, já à vésperas de retornarem à Holanda, descobrir o número de telefone da mulher que, anos atrás, dera à luz aquela bela jovem com o Brasil estampado em seu DNA e que não falava uma única palavra em português.  Essa senhora agora residia no interior de São Paulo e, como o grupo saíra da Europa já com as passagens de volta compradas, combinaram o reencontro no Galeão, aproveitando a janela de tempo que tinham entre a aterrissagem do voo de Maceió e a partida do voo para Amsterdam. 
Assim, aquelas duas mulheres desconhecidas que agora se sentavam à mesa com os estrangeiros eram mãe biológica e meia-irmã que estavam ali para reencontrar o passado...

O resumo da história é mais ou menos assim: Com apenas 15 ou 16 anos, a jovem, pobre e analfabeta, saiu de sua cidadezinha no interior de Alagoas para trabalhar na casa de alguém de mais posses em outra cidadezinha do mesmo estado. Lá, o dono da casa se "engraçou" para o lado dela e, embora casado, não achou nisto óbice para engravidá-la. Porém, o fruto daquela conjunção carnal não era desejado por ele e nem por sua esposa, de modo que o casal logo providenciou para que a criança fosse dada em adoção assim que nascesse - "não deixaram nem eu te pegar..." disse a mãe, em prantos, para a filha, 36 anos depois...

O tempo passou e a vida conduziu essa pobre jovem alagoana para o estado de São Paulo. Lá se casou e teve outros filhos, porém não foi feliz em seu casamento - o marido bebia muito e causava transtornos para ela e para as crianças. Com o tempo, viu-se obrigada a pô-lo para fora de casa e a criar as crianças sozinha, sendo pai e mãe, sustendando-lhes com o dinheiro que obtinha através do trabalhando árduo nas lavouras de cana. Fez o melhor pôde por seus filhos, mas nunca aprendeu a ler ou escrever.Também nunca se esqueceu da filha que tivera em sua juventude e que, embora soubesse estar em algum lugar da Holanda, jamais imaginara tornar a vê-la em vida... Por isso, quando alguém ligou falando enrolado e com a voz embargada, pensou que era trote - era o tal do tio padre que, enquanto falava, chorava, ela, porém, do outro lado da linha, confundiu o choro com riso, crendo que ele caçoava dela.

Trinta e seis anos depois, estavam ali naquele aeroporto, entre lágrimas, mãe, irmãs, filhas, reunidas pela primeira vez em décadas e eu, humildemente, fui a língua que falou por duas ou três horas enquanto dois mundos muito diferentes e toda uma vida de distância novamente se tocavam...

O que é possível fazer em 36 anos? E em duas ou três horas? Em duas ou três horas, vi 36 anos voarem...

sábado, 10 de setembro de 2011

Palavras que aprendi a amar

Conheço pouco as palavras... contudo, também conheço palavras que poucos conhecem! E, muito embora tenham sido por mim ignoradas por anos, uma vez que as conheci, não sei como pude um dia prescindir delas. De estranhas, desconhecidas, passaram a ser palavras amigas, companheiras, sobretudo naqueles momentos em que a gente mais precisa delas, momentos de refletividade, de ponderação. Claro, assim como é costumeiro com as pessoas, muitas destas palavras não as conheci diretamente, mas me foram apresentadas por seus pares, por suas irmãs e até mesmo por parentes estrangeiras. Conhecer palavras é uma viagem (literalmente, tem hora), é um deleite, sejam elas da nacionalidade ou origem que forem. De fato, ao aprender outros idiomas, acabei por conhecer mais o meu próprio. É uma pena que eu ainda seja por demais ignorante sobre minha própria e sobre as demais línguas com as quais travei contato. Ah, mas se com o pouco que conheço delas já me alegram tanto! Sem contar as coisas - úteis, ou não, pouco importa, pois não ocupa espaço nem custa nada - que me levam a saber.

Do inglês, por exemplo, aprendi que poderia, se quisesse, delir o "delete" da língua de vez! Está bem que ambas vêm do mesmo radical latino, significam, em essência, a mesma coisa. Mas uma chegou muito antes, lá pelo século XV, quando os portugueses ainda desbravavam as terras deste colosso sulamericano. A outra desembarcou por aqui bem depois, já na segunda metade do século XX, pela popularização da informática. Mas, como aqui nesta terra sempre recebemos bem os estrangeiros, a que chegou depois, com o sotaque gringo, se aclimatou e hoje toma açaí num quiosque qualquer lá da Barra. A mais velhinha caducou, hoje está num asilo e ninguém mais se lembra dela (precisamos aprender a cuidar melhor de nossos idosos!).

Sempre que se deseja é algo com paixão, mas confesso que desejei muito mais intensamente depois que o fiz anelosamente! E só pude fazê-lo graças ao que me ensinaram o italiano e o espanhol. Esta palavra, aliás, nem mesmo o dicionário ainda a traz, e fui até ridicularizado por utilizá-la certa vez! Mas o Google já a encontra algumas dezenas de vezes em seu repertório. De todo modo, para aqueles que não se contentam com os resultados daquele que tem acesso à, praticamente, toda a fonte de saber humano disponível no mundo, busquem por "anelo" e "anelar" nos dicionários. Eles terão a cortesia de lhes apresentar suas definições. E para fazer a adverbialização, quer seja do verbo, quer seja do substantivo, ninguém precisa de permissão de dicionário nenhum! Não sou eu que vou ficar esperando por uma. Afinal de contas, certas mulheres podem periguetar por aí à vontade que logo são agraciadas com o verbete "periguete"! Então quero ver quem é o puritano que vai me atirar a primeira pedra!

Também graças ao espanhol, o que "costumava a ser" na minha vida ficou tão mais simples quando começou a soer! Vá lá que absolutamente ninguém use esta palavra em língua portuguesa, mas, convenhamos - tão mais sintética! E dizer que "sói" nem dói! Agora, dizer que "acontece com frequência", ou "é hábito ou costume" pode até nem doer, mas que leva mais tempo e gasta tantas letras, ah, isso ninguém tem como negar!

Verdade que nem todas palavras aprendidas facilitam... O chiste não é tão engraçado quanto a piada e o chisme nunca vai fazer tanto sucesso quanto a fofoca! Mas conhecê-las a ambas e saber que elas fazem parte da língua de Camões tanto quanto da de Cervantes também não faz mal a ninguém! Vai que alguém resolve te contar um chisme... Seja como for, não vai querer ficar sem saber do babado, vai?

Grande ou pequena, nacional ou estrangeira, de traços latinos ou germânicos, o certo é que aprender uma boa palavras é como conhecer uma boa mulher - difícil entendê-la, mas, uma vez que a conheça melhor, impossível não amá-la!

sábado, 4 de junho de 2011

Carta

Montevidéu, 28 de abril de 2011.

Cara Amiga,

Como vais? Tudo bem? Cheguei há poucas horas à capital uruguaia e resolvi aproveitar a paisagem para tirar um descanso e escrever-te esta. Saí bem cedo de Buenos Aires e peguei uma barca para cruzar o Rio da Prata e agora estou aqui, do outro lado da margem, sentado num muro de pedras construído ao longo dum pequeno trecho da orla do rio. Suponho que aqui já esteja numa parte da foz já muito próxima ao oceano, porque a cor da água e tudo mais em volta lembra o mar - há verdadeiras praias, com gaivotas, conchinhas de mexilhões, a brisa que sopra constante e tudo mais.

À esquerda de onde estou, tem um casal de meia idade, de feições asiáticas, abraçadinhos... Imagino que já sejam casadas há muitos anos, mas ainda namoram! Mais adiante, à minha esquerda, sentados na mesma mureta, um casal jovem também namora. Eles conversam e trocam carícias - ela mexe no cabelo dele, depois ele no dela, se abraçam, se beijam... Olhá-los dá a impressão de que, para eles, só existem os dois no planeta. Parecem, simplesmente, ser as pessoas mais felizes do mundo! No fim das contas, fico com a sensação de que a felicidade não custa caro, não é verdade? A praia e a mureta são de graça. Os carinhos, os beijos, os sorrisos, as palavras sussurradas ao pé do ouvido... nada disso tão pouco é cobrado. É simples, é grátis, é mágico! E parecem felizes de fato. É por isso que eu amo coisas simples! Creio que a simplicidade tem o poder de abrir pequenas portinhas escondidas pelas quais a felicidade pode entrar. Não concordas? Veja só eu aqui, - belas palmeiras de um lado, a brisa e o barulho da água nas pedras do outro, e nada pra fazer, nenhuma obrigação... simples e barato - feliz! Acho que não trocava este momento por quase nada no mundo.

Montevidéu é uma cidade bem agradável, muito embora não goze da mesma pujança que a capital portenha. Todos muito simpáticos e é impressionante a quantidade de coisas que remetem ao Brasil nas duas cidades - Av. Brasil, Praça Tiradentes, Banco Itaú, posto da Petrobras, busto de Santos Dumont etc. Uma coisa curiosa daqui é que, por todas as partes, vê-se os uruguaios com sua cuia na mão e uma garrafa térmica debaixo do braço, prontos pra tomar seu mate (o nosso chimarrão) em todos os lugares que vão. Marcas culturais à parte, certas coisas não mudam, por exemplo, também aqui os cães sabem quando estão indo ao veterinário! Eis a cena: um labrador preto, lindo!, curvado, ofegante, tentando a todo custo ir no sentido contrário ao que ia sua dona, que lhe arrastava pelo chão liso do consultório. E o pobrezinho fazia a mesma cara que o meu cachorro faz quando sabe que vai ao veterinário. Deve ser aglum instinto canino universal... Uma comédia!

Buenos Aires é linda! É uma grande metrópole, mas não como São Paulo, ou Nova Iorque. Tudo bem que a impressão que se tem é de que não há casas na cidade - é uma massiva construção de grandes edifícios, mas que lembra mais algo como Milão, ou Paris, não sei. Deve ser isso, aliás, que doa à cidade aquele tal "ar de Europa" de que tanto ouvi falar, porém sempre desconfiava se seria mesmo verdade. É. Nota-se isso não só na arquitetura dos prédios, mas na disposição da cidade, na maneira como as pessoas se vestem, e ainda tem essa pintura retrô com a qual se pintam os ônibus urbanos e os letreiros e cartazes, dando à cidade um certo tom nostálgico. Buenos Aires é pujante, mas não está para grandes arranha-céus futuristas, é bem mais charmosa que isso. Seu clima é de Belle Époque! É bem essa a expressão.

Bom, querida amiga, espero que tudo esteja bem contigo e com os teus. Que possas gozar de saúde e destreza, que realizes teus sonhos, venças na vida e sejas feliz. Obrigado por tua última missiva e não te demores em escrever-me novamente. Aguardarei ansiosamente por notícias tuas. Não te esqueças deste que te escreve.

Com carinho,
Teu amigo.

terça-feira, 29 de março de 2011

Daminha de papel

Coisinha tão pequena
Daminha de papel
Eterna princesinha
Docinho de mel
Te embalo em meus bracinhos
Bracinhos de Morfeu

Dorme, minha daminha
Docinho de mel
Sonhe com os anjinhos
Que estão além do véu.

Eterna princesinha
Coraçãozinho meu
Anjinho de candura
Saudades sinto eu
Agora tens teu berço
Com o Papai do Céu

Dorme, estrelinha
Brilha nos sonhos meus
Descansa, meu anjinho
Nos vemos lá no céu.

(uma singela homenagem àqueles que nem bem nascem e já têm que partir... uma humilde expressão de condolência para com aqueles que, cedo demais, são forçados a dizer adeus aos seus pequenos)