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Bem-vindos! Este blog surgiu do meu gosto pela palavra, em especial pela palavra escrita. Desde novo, comecei a tomar gosto pela coisa e a escrever um textinho aqui, um poeminha ali, uma redação acolá. Com o passar do tempo, dei-me conta de que esses escritos se encontram dispersos em pedaços de papel, partes de cardenos etc - pois, com frequencia, a gente guarda memórias da nossa infância e adolescência, mesmo não sendo nada de grande valor literário. Ao crescer, não sei se a qualidade dos textos melhorou em nada, mas a vontade de escrever não me abandonou, ainda que se manifeste esporadicamente, e comecei, então, a questionar meu método de produção e armazenagem - papéis soltos por todos os cantos já não me pareciam a melhor maneira. Surgia, assim, a ideia de fazer um blog. Da ideia até sua execução, passaram-se anos, mas finalmente aconteceu. Para entender um pouco mais sobre a escolha do nome, ou sobre o blog em si, leia o post inaugural, clicando aqui. Por fim, muito embora não haja aqui organização quanto a temas, tipos ou formas textuais, preferi separar os textos em versos numa outra página a que chamei de "Líricos". Caso tenha interesse em visualizar esses textos, basta clicar aqui ou no link que se encontra à direita se sua tela. Boa leitura!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pulvis es et in pulverem reverteris

A cada manhã que acordo, me levanto disposto a encarar mais um dia, resoluto em sustentar a maior falácia em que o homem jamais pôde crer - o poder! E não se iluda o leitor em crer que trato aqui daquele poder altivo que possuem as pessoas como aquelas que ocupam os altos cargos públicos, ou que são os grandes figurões da sociedade, ou que estão em qualquer posição de autoridade. NÃO! Refiro-me à falácia que não é privilégio de qualquer ser humano - tanto pobres, quanto ricos; tanto sábios, quanto incultos sucumbem à inevitável ilusão de que realmente controlam alguma coisa. E suspeito que nem o façam por mal! Até porque, simplesmente aceitar a dura realidade, pode ser um golpe duro demais para a nossa espécie suportar.

Mas a verdade nua e crua é esta - o homem é um ser débil, insignificante! E, muito embora se alimente da ilusão de que controla e subjulga todas as coisas, - de fato, é admirável tudo o que o homem é capaz de fazer, construir, produzir, aprender e transformar ao seu redor; são inegáveis a força, a capacidade e a influência que o homem exerce - na verdade, ele é aquilo que ele mais teme: impotente! Obviamente, não me refiro àquela impotência de ordem sexual, muito embora seu exemplo se aplique aqui neste contexto tão perfeitamente quanto qualquer outro. Quer seja o leitor crente, ou não (isso pouco vai importar), as palavras do evangelista são tão válidas hoje, quanto a dois mil anos atrás, apesar de agora existirem as tintas para cabelo: "Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto." Talvez hoje o homem seja capaz de controlar a cor dos fios, mas certamente ainda tem pouco controle sobre a permanência, ou não, desses fios em seu couro cabeludo. E, chegado o dia em que ele domine completamente a técnica de segurar os fios rebeldes, ainda assim, nunca haverá a garantia de que a própria cabeça que eles adornam seguirá sustida sobre o pescoço de seu dono. Vê, meu amigo, você pode até decidir a cor do seu cabelo, mas certamente não é você quem decide quando dará seu primeiro alento nem seu último suspiro. Aos que queiram, talvez, arrumar-me um contra-exemplo, digo que, possivelmente, nem aqueles ditos suicidas tenham, stritu sensu, esse poder - quantos já tentaram por cabo à própria vida e falharam? E, de todo modo, ninguém decide sobre seu primeiro choro.

Voltemos a cada manhã em que me alço, entusiasmado, ou não, porém sempre disposto a sustentar o engodo. E por que é, ou como é que me engano tanto? Darei um exemplo, trabalho diária e dedicadamente, e, no final do mês, pagam-me meu salário. Então honro integral e pontualmente todos os meus compromissos financeiros, e depois me esforço para poupar uma parte do meu ordenado a fim de "ter uma reserva para uma emergência", ou então "garantir o meu futuro" - não é assim que procedemos vários de nós, caro leitor? Provável que você mesmo aja de forma igual e, se for este o caso, eu o congratulo e insto-lhe a continuar - você está sendo prudente, precavido, muito sábio. Como é reconfortante saber que, se alguma coisa acontecer você está coberto, não é verdade? Ou como o tranquiliza a certeza de que seu futuro estará garantido, não é mesmo? Mas e que garantias são essas que você tem? Seu dinheiro no banco? Pois o banco pode quebrar, seu investimento pode dar prejuízo, ou simplesmente seu dinheiro pode perder o valor de uma hora pra outra. Estou exagerando? Pergunte a alguém que tenha vivido a crise dos anos 30 para saber se o que eu digo é exagero.

Não se assuste, como já percebeu, eu e você fazemos mais ou menos as mesmas coisas e buscamos mais ou menos a mesma tranquilidade e paz de espírito. É bom deitar a cabeça no travesseiro à noite sabendo que está tudo bem, certo? Contudo, leitor, entenda que essa sua sensação de controle da situação ou, em outras palavras, de poder, não é mais que uma ilusão. Evidente que não estou fazendo aqui nenhuma apologia para que abandone todas suas praticas salutares já que "tudo é uma ilusão". Não! Observadas as condições normais de temperatura e pressão, vulgo CNTP, as medidas costumeiras que o senhor toma para precaver ou remediar seus males funcionam perfeitamente. Por favor, siga pondo-as em prática! O que eu quero só que o senhor entenda é que, muito embora essas ações funcionem muito bem sob CNTP, o senhor não controla nem a temperatura e nem a pressão!

Chega um dia (ou uma dezena deles) na vida de um homem - seja rico, ou podre; poderoso, ou modesto - e, se não chegou ainda, é quase certo de que chegará, em que ele simplesmente se vê impotente diante do que a vida lhe impõe. E a impotência, meus caros, é o pior dos sentimentos... Se verá impotente, ainda que culto e rico em práticas pedagógicas, diante de um filho que escolhe enveredar-se por caminhos tortuosos sem que ele nada possa fazer... Se verá impotente, ainda que abastado, quando a doença o acometer, roubando-lhe sua disposição ou suas faculdades... Se verá impotente diante de um amor que parte revel ao seu querer... Se verá impotente diante da morte, ainda que creia na vida após essa, pois enquanto ainda estiverem separados, nada poderá fazer...

Percebe, senhor, seu poder não é nada! E sua segurança não é mais forte do que o barbante que amarra um elefante! Quando caminha altivo, com a cerviz em riste (se acaso o faz), o senhor apenas sustenta um conto de fadas tão verdadeiro quanto aqueles que contam para as crianças dormirem. Ou se maltrata ou despreza seu semelhante (talvez não o julgue tão semelhante assim ao distinto senhor), saiba, contudo, que ao simples querer dos elementos, as nuvens podem enegrecer o seu céu, as vagas podem varrer o seu mar, o seu chão pode se abrir e tragá-lo num piscar de olhos. "Pulvis es et in pulverem reverteris" - do pó ao pó - é o que está infalivelmente decretado, tudo mais é vaidade.

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