Sempre quis compor música, mas nunca consegui (pelo menos, não uma séria). Acreditava que até seria capaz de fazer a letra, mas na hora de fazer a melodia... não sai! O texto que se segue foi só uma forma de lidar com/brincar com/externar essa frustração. Nem sei como ficou, foi feito meio de improviso. Virgílio (o autor latino) me teria feito esperar nove anos antes de publicar. Tenho mais pressa que isso, não pude esperar, de todo modo, espero que sirva ao menos pra passar o tempo.
Posso fazer bastante coisas com um texto. Pode até não ficar bom, não valer nem a tinta que gaste, mas posso fazer. Posso começar piano, suave, com palavras sibilantes, sussurradas, deslizantes, aspiradas, que suspiram suavemente o doce som dum silvo corrente que sopra sobriamente num silencioso sábado de manhã. Posso entrar num crescendo, numa torrente de verbos e outras formas lexicais, substantivas, pronominais, adjetivas, adverbiais, determinantes e outras variantes que se põem a imprimir um ritmo alucinante de verborréia constante que não se permite nem mesmo o instante de um breve suspiro refrescante que o sumário vagar de um humilde estanque poderia propiciar ao infeliz ser que busca desesperadamente o momento preciso de uma pausa gráfica para um fugaz alento salvador inspirar! De improviso, paro, numa fermata retardo o que devia continuar, já sobra tempo pra respirar. Posso fazer uma frase valsada em batida ternária com a sílaba tônica impondo essa mossa a cada compasso que há. Quero, posso, mudo o troço pra cadência de dois pulsos - aqui um, um acolá. Só não me mande fazer nada em 19/16 porque aí já é sacanagem! E essa última frase, que disparate, ficou dissonante! Com palavras, acredite, posso ritmo, rima e métrica, posso fazer estética feia ou bela, só não posso musicar! Posso fazer bastante coisas com um texto. Só não sei fazer música...
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